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Destaques

As inacreditáveis ondas cerebrais de meditadores de alto nível

Um estudo conduzido pelo neurocientista Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin (EUA), descobriu que pessoas que meditaram por milhares de horas exibem uma diferença notável em suas ondas cerebrais em comparação com a média das pessoas O psicólogo Daniel Goleman, que coescreveu “Altered Traits” com Davidson, explica melhor o que isso significa: Sem precedentes O neurocientista trouxe meditadores de alto nível, que vivem tipicamente no Nepal ou na Índia, alguns na França, para o seu laboratório em Wisconsin. Usando scanners cerebrais, realizou testes avançados com os indivíduos, alcançando resultados surpreendentes e sem precedentes na ciência. Por exemplo, Davidson descobriu que as ondas cerebrais dos meditadores são realmente diferentes da média. Talvez o achado mais notável tenha a ver com o que é chamado de “onda gama”. Todos nós obtemos ondas gama por um período muito curto. Digamos, logo quando resolvemos um problema, os cientistas podem detectar cerc...

Sabedoria

 
Quando o Honrado-pelo-Mundo expôs o Darma, apresentou três pontos básicos.
O primeiro é moralidade, o segundo é 
samádi, o terceiro é sabedoria.
Mestre Dao’an (312-385)
 O que é a sabedoria?
A palavra do sânscrito para sabedoria é prajña e, em geral, não se traduz. Isso acontece porque a sabedoria prajña é muito diferente do conceito que temos de sabedoria no mundo do samsara, seja em que língua for. Sabedoria prajña é aquela que o budismo considera a mais elevada, constituindo o mais sublime dentre as seis paramitas. Vislumbres da sabedoria prajña levam os seres sencientes à iluminação – algo que seria impossível sem prajña. O Sutra Mahaprajnaparamita diz que “prajña é a mãe de todos os Budas”.
Três formas de cultivar a sabedoria prajña
Os budistas reconhecem três formas de conquistar a sabedoria prajña:
1. Sabedoria alcançada pelo ouvir
Quem tem a boa fortuna de estar próximo de pessoas sábias, que compreendem o Darma, tem a oportunidade de desenvolver prajña ao ouvi-las. É também possível desenvolver a sabedoria lendo sutras e literatura dármica ou assistindo a vídeos e filmes dármicos.
2. Sabedoria alcançada pelo pensar
Depois que se ouve o Darma, faz-se necessário pensar a seu respeito, caso contrário, ele não será de nenhuma utilidade. A sabedoria é uma peculiaridade ou uma condição da mente. Caso não se empregue a mente para sua aquisição, a sabedoria não será alcançada. Nada aprenderá aquele que se recusa a refletir sobre o que ouviu. Através do pensamento, é possível adquirir percepção muito profunda da verdade do Darma. Tudo começa na mente. Quando a mente começa a treinar-se no Darma, nada poderá obstruir seu rápido e alegre desenvolvimento.
O Buda ensinou quatro princípios necessários para distinguir entre verdade e falsidade, ou entre sabedoria e ignorância. Disse ele que nossa compreensão deve (1) seguir o Darma, e não as pessoas; (2) o espírito do Darma, e não as palavras que o expressam; (3) o verdadeiro significado do Darma, e não quaisquer interpretações de seu significado; (4) nossa sabedoria profunda, e não nosso conhecimento superficial.
3. Sabedoria alcançada pelo cultivo
Uma vez tendo desenvolvido a sabedoria por ouvir o Darma e refletir sobre seu significado, devemos começar a praticar o que aprendemos. Muitas vezes, a prática do budismo é chamada de “cultivo”, porque cultivamos a sabedoria e o bom comportamento, da mesma forma que um agricultor cultiva seus campos.
O terreno da interação entre o pensamento e o comportamento constitui o principal campo a ser cultivado. Avança-se no budismo por meio de um processo contínuo de observação do próprio comportamento, que é ajustado para entrar em consonância cada vez maior com a sabedoria do Buda interior. Esse processo de aperfeiçoamento contínuo acaba por produzir a percepção direta da não dualidade e do vazio inerente a todos os fenômenos. Esse é um estado de júbilo.

Sutra Mahaprajnaparamita explica a sabedoria quando Subhuti se dirige a Shariputra da seguinte maneira:
Shariputra, o bodisatva que continuar a estudar dessa forma, gradualmente se aproximará do conhecimento perfeito (sarvajna) de um Buda e gradualmente se tornará puro em corpo, mente e percepção. O bodisatva que é puro em corpo, mente e percepção não mais gera impurezas, raiva, ignorância, orgulho, ganância ou opiniões erradas. Quando o bodisatva não mais gerar nenhuma dessas impurezas, deixará de se tornar um corpo no ventre de uma mulher e, em vez disso, conquistará o corpo de transformação e viajará apenas de um reino búdico a outro, auxiliando os seres sencientes a alcançar a pureza do reino búdico. Finalmente, alcançará o anuttara-samyak-sambodhi, tornando-se uno com todos os Budas.

Conforme cresce nossa sabedoria, amadurece também a compreensão que temos dela. Hoje, a sabedoria nos parece uma coisa; amanhã, será algo mais profundo e grandioso. À medida que aumenta nossa capacidade de compreender a profundidade do Darma, valorizamos mais e mais o que ele tem a ensinar. Ao longo desse processo de desenvolvimento, é essencial que o praticante tenha em mente o seguinte: se a moralidade, o samádie a sabedoria não beneficiarem compassivamente todos os seres sencientes, não passarão de mera imitação do real.
O Buda enfatizou os três treinamentos para ajudar-nos a evitar os desequilíbrios decorrentes de cultivarmos só a moralidade, só a meditação ou só a sabedoria. É importante compreender essa questão. A maioria das pessoas costuma se aferrar a uma única ideia religiosa por vez – assim, sua religião baseia-se ora em fé, ora em crença, ora em moralidade. O Buda ensinou os três treinamentos para que superássemos essa tendência de dar caráter unidimensional à nossa vida espiritual. No budismo, a sabedoria é considerada a mais elevada virtude porque somente ela é capaz de compreender a importância de praticarmos os três treinamentos simultaneamente.

Shastra Yogacharabhumi diz:
Quando alguém pratica os três treinamentos, que estágios de crescimento são vivenciados? Primeiramente, o indivíduo se torna puro e bom por meio da prática da moralidade, o que leva à eliminação da ansiedade. Com o fim da ansiedade, ele vivencia uma alegria serena. Com o surgir da alegria serena, começa a experimentar o samádi propriamente dito. Com ele, verdadeiro conhecimento e percepção intuitiva começam a ser adquiridos, o que leva a uma sensação de aversão por tudo o que é falso ou perverso. Tal aversão auxilia o praticante a se desembaraçar das impurezas, o que leva à libertação. A libertação, por fim, leva à realização perfeita no nirvana. Esse é o caminho do crescimento do indivíduo: ele começa cultivando a pureza e a moralidade, que gradualmente o conduzem ao nirvana.

No Sutra Mahaparinirvana, o Buda Shakyamuni explica muito bem a importância dos três treinamentos:
O bodisatva Simhanada perguntou ao Buda: “Honrado-pelo-Mundo, o que significa cultivar a moralidade, o que significa cultivar o samádi e o que significa cultivar a sabedoria?”.
O Buda respondeu: “Bons monges, quem aceita os preceitos com o único objetivo de conquistar prazeres celestiais para si próprio, e não para salvar todos os seres sencientes, não estará professando o Darma supremo. Quem age apenas em benefício próprio, ou por medo de cair nos mundos inferiores da existência, ou para que sua vida transcorra de modo fácil e agradável, ou por temor às leis comuns ou porque teme causar danos a sua reputação, estará agindo simplesmente em função das preocupações imediatas da vida neste mundo. Observar os preceitos dessa maneira não constitui cultivo verdadeiro.
Bons monges, o que caracteriza o verdadeiro cultivo dos preceitos? Aquele que cultiva os preceitos com a finalidade de salvar todos os seres sencientes e proteger o verdadeiro Darma e salva quem não foi salvo, liberta quem não foi libertado, guia para o nirvana aqueles que não o conhecem sem ao menos ter em mente os preceitos ou a forma dos preceitos, sem ter consciência de que os está praticando, sem sequer lembrar de recompensas potenciais e sem se deixar seduzir por forças inferiores – isso, sim, bons monges, é o que se denomina cultivar os preceitos.
E o que é cultivar o samádi? Se uma pessoa cultivar o samádi com o objetivo exclusivo de conquistar libertação ou benefício para si própria, e não para o bem de todos os seres sencientes e pela proteção do Darma, ela não estará verdadeiramente cultivando o samádi. Caso sua motivação seja ganância, luxúria, apego à comida ou qualquer outra transgressão desse tipo, não estará verdadeiramente cultivando o samádi. Os nove orifícios do corpo, tanto masculino quanto feminino, não são limpos. Cultivar o samádi com o objetivo de lutar ou matar não é cultivar o verdadeiro samádi.
Bons monges, o que é o verdadeiro cultivo do samádi? Se o samádi for cultivado para o bem de todos os seres sencientes, e se a equanimidade for alcançada entre os seres sencientes com o objetivo de auxiliá-los a conquistar o Darma sem risco de regressão e para auxiliá-los a desenvolver uma mente pura; com o objetivo de ajudá-los a alcançar o caminho maaiana e de proteger o Darma supremo; com a intenção de ajudar os seres sencientes a alcançar a mente bodhi sem regressão e de auxiliá-los a alcançar o samádi shurangama e o samádi diamante; com o propósito de ajudar os seres sencientes a conquistar a dharani e os quatro estados ilimitados da mente; com o objetivo de auxiliá-los a ver sua natureza búdica e se, enquanto isso, o samádi não for percebido nem tampouco sua forma, ou aquele que o cultiva, ou suas potenciais recompensas, bons monges, quem conseguir agir dessa forma estará verdadeiramente cultivando o samádi.
E em que consiste o cultivo da sabedoria? Se o praticante pensar: “Se cultivar a sabedoria apenas para mim mesmo, logo alcançarei a libertação e transcenderei os três planos inferiores da existência. Ninguém poder auxiliar de fato os seres sencientes e ninguém pode realmente salvar todas as pessoas do ciclo de nascimento e morte. O aparecimento de um Buda é tão raro quanto uma flor udumbara. Se eu conseguir ao menos eliminar meu próprio apego ao sofrimento, decerto conquistarei a recompensa da libertação. Assim sendo, vou buscar a sabedoria para superar o sofrimento e rapidamente obter a libertação”, ele não estará cultivando verdadeiramente a sabedoria.
E o que é o cultivo da sabedoria? Aquele que contempla que os seres sencientes são ignorantes e estão presos na armadilha do ciclo de nascimento, envelhecimento, morte e sofrimento, se dá conta de que eles não sabem como praticar o caminho supremo e, devido a essa percepção, é levado a fazer o voto de utilizar o corpo que possui nesta vida para ajudá-los em suas dificuldades – essa pessoa, sim, estará cultivando a verdadeira sabedoria. Os seres sencientes são fracos, ambiciosos, imorais e ignóbeis. Quem estiver disposto a assumir em seu próprio corpo esse carma de ganância, raiva e ignorância; a auxiliá-los a superar a ganância e seus apegos aos nomes e formas; a ajudá-los a se libertar do ciclo de nascimento e morte; e, para tanto, estiver disposto a utilizar o corpo da forma que for necessária e jurar guiar todos os seres sencientes ao anuttara-samyak-sambodhi; e, ao fazer tudo isso, não perceber sabedoria, ou forma da sabedoria, ou o praticante da sabedoria, ou nenhuma potencial recompensa, esse será o verdadeiro cultivo da sabedoria.
Bons monges, quem cultiva a moralidade, o samádi e a sabedoria desse modo é um bodisatva, ao passo que quem não consegue cultivar a moralidade, o samádi e a sabedoria dessa maneira é somente um shravaka.

Do livro Purificando a Mente – A meditação no Budismo Chinês,
Venerável Mestre Hsing Yün, Editora de Cultura, São Paulo, maio de 2004.

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